sobre caracóis, flores e a vida

"eu me tornei o caracol mais rápido do mundo. espere por mim, mesmo que eu seja lenta. vou até você como uma pétala de flor, através do oceano agitado e através da floresta verde. eu tenho uma casa nas minhas costas para você." — snail - kim jae hwan

Eu acho caracol um animal engraçado. Ele tem uma casinha que faz parte do seu corpo e ela existe só pra ele. Não precisa se preocupar com nenhum tipo de problema como aluguel, brigas ou expulsões, por exemplo. Não é legal?

Eu tenho várias casas. Casas metafóricas e uma casa de verdade. Eu tenho essa casa maior, em que vivo com meus pais. Ela é bonita, mas como vivo nela desde que nasci, meio que enjoei. Mas ela é uma boa casa, disso não posso reclamar. Também tem as casas em que vivo no meu coração. Essas são as casas que me dão aconchego e me deixam feliz por existir. Casas como o abraço da mina mãe ou as risadas que dou com minhas amigas no caminho pra casa, depois da faculdade. Esse tipo de casa é o que me deixa mais feliz.

Eu queria ser como um caracol. Porque aí eu poderia fugir de casa a qualquer hora, e eu teria onde dormir no final do dia. E eu poderia sair de casa sem me preocupar com o preço do aluguel, sabe, essas coisas todas que a gente que é adulto se preocupa. Mas eu não me sinto muito adulta, não vou mentir. Embora eu não saiba exatamente o nome pra esse período da vida em que eu sinto, metaforicamente, estar. Acho, inclusive, que uso a palavra metaforicamente meio errado. Eu não sei o significado de muitas palavras e isso é um problema. Mas espero que você seja capaz de ignorar.

Isso dos caracóis e das casinhas nem saiu 100% de mim, me inspirei em um dorama que assisti faz muito tempo, chamado Porque Essa É minha Primeira Vida. Na verdade, não faz muito tempo assim, mas é que eu acho esse negócio de conceito de tempo uma coisa meio confusa. Pra mim, que tem 20 anos, 4 anos atrás é muito tempo. Porque o meu eu de 16 anos não existe mais. Quando se é jovem nosso passado felizmente morre mais depressa, o que é bom. Enfim, assisti esse dorama faz um tempo e revi ele recentemente. Eu revejo as coisas com bastante frequência e parece que estou vendo pela primeira vez, porque minha memória é fraca e não lembra de nada. E aí, quando revi, essa cena dos caracóis me marcou. E aí eu decidi roubar isso pra mim.

Eu gosto de flores. Acho que todo mundo gosta. Na verdade todo mundo não, porque eu acho que dizer "todo mundo" é sempre muita coisa e você nunca sabe o que todo mundo pensa. Enfim, muita gente gosta de flores. Acho que ser um caracol que vive entre as flores deve ser uma boa vida. As flores cheiram bem e são bonitas de olhar. 

Existem pessoas que se parecem com flores. Elas deixam o coração um pouco mais leve e deixam a visão mais colorida, e aí tudo fica um pouco mais fácil. Podem ser de várias cores, tamanhos e cheiros. Eu gosto das flores que, embora tenham bastante espinhos, são bonitas de olhar. Eu gosto também das flores que não têm espinho nenhum, mas dessas eu tenho um pouco de inveja. Porque eu sou uma flor com bastante espinhos, sabe? E aí tenho medo de machucar. Na verdade, será que eu sou mesmo uma flor? Será que eu sou capaz de colorir a vida de alguém? Não gosto de pensar muito nisso, porque eu fico triste. Eu espero não te deixar triste com a minha tristeza. Às vezes eu fico tão triste que não sei como lidar. E aí, eu escrevo. Mas já ouvi as pessoas dizendo que ficaram tristes porque leram de mim palavras tristes. Isso é bom ou ruim?

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