diário nº 283

Mais uma vez eu me pego querendo conversar. Com quem? Não sei com quem. Porque não quero encher o saco, sabe? Não sei como conversar direito, também, já que minha cabeça anda tão confusa e tão esquisita de tudo, coitada. Mas eu ando tão cansada. Pego aquele livro que tanto queria ler, folheio suas páginas e em questão de minutos parece que nada preenche esse vazio crônico, fúnebre que habita em mim. Parece que nada faz nenhum tipo de sentido exatamente porque não tem mesmo, é assim que é e ponto final. Mas eu queria fazer tanta coisa. Faço tantas listas e nada dá certo. Planejo tanta coisa e nada funciona. Você acha que eu sobrevivo até o amanhã? Até o hoje, até daqui uma hora. Você acha? Às vezes soa tão absurdo continuar. 

Ai, sei que é tão mórbido esse papo, tudo em mim é tão mórbido, eu peço enormes desculpas, prometo que vou parar. Eu acho que tá começando a encher. Desculpa, sério. Desculpa por tudo isso e por muito mais. Desculpa pelo vazio crônico, desculpa por todas essa encheção de linguiça sem graça que eu finjo que faz algum tipo de sentido ou lógica. Eu juro que vou parar. Mas enquanto não paro... Eu vou continuar tentando.

Quero fazer arte porque da arte eu respiro e faço de mim útil. Porque sem a arte minha carcaça se torna apenas mais uma em tantas outras nesse lugar grandioso que chamamos de Terra. Mas mesmo quando há arte ainda continuo a ser exatamente igual a tantas outras vidas que flutuam por esse absurdo Universo. Absurdo porque é absurdo viver e é absurdo sonhar. É absurdo continuar vivendo porque dói e machuca. Pelo menos pra mim dói tanto. Ainda acho minha arte tão feia e isso também dói tanto minha alma. Não há nada que me diferencie do que eu faço de ninguém e nada na minha existência causa algum tipo de acalento. Tudo, tudo dói dentro de mim. Respiro, trêmula, com um pouco de medo do amanhã, que talvez não chegue, mas que quando chegar, eu tenho certeza que vou desejar que ele não exista. 

Eu grito, apenas para eu ouvir. Na verdade, não, eu não grito. Eu sussurro. Porque gritar dói o ouvido. E você sabe que estou cansada de tanta dor. Estou, sinceramente, cansada de absolutamente tudo que me causa angústia. Existir é uma das coisas que mais me cansam. Como é pesado continuar. 

Eu sonho com um amanhã melhor. Sonho com uma vida melhor. Sonho, apenas sonho. E que eu possa dar felicidade àqueles que também me dão. E se eu não der? Aí eu terei certeza da minha ilustre inutilidade. Do meu não pertencimento. Do tanto faz existir.

dentro de mim existe uma voz. ela grita desde o amanhecer até a escuridão da noite e eu não consigo fazer isso parar. os meus imensos olhos estão parados, tentando entender onde estou. eu não aguento mais. FAÇA ISSO PARAR. FAÇA ISSO PARAR. FAÇA ISSO PARAR. FAÇA ISSO PARAR.