
Não tenho muitas palavras pra escrever hoje, pra ser sincera. Mas me bateu uma vontade de sentar na frente desse computador e só deixar meus dedos conduzirem essa dança maluca, onde eu apenas assisto o texto criar forma e magicamente se transformar em alguma coisa meio significativa, ou talvez nem tanto, embora eu tente fingir que eu faço coisas profundas o bastante para comover alguém. Eu minto para mim que sei escrever, minto pra mim e digo que sou uma pessoa menos rasa do que uma piscina de plástico bem pequenininha, mas eu sei bem que no fundo isso é a mais pura mentira. Eu não sou profunda, sou rasa, muito rasa. Não me assemelho a um oceano, nem a um mar, até mesmo a um rio. Eu me assemelho a uma poça, daquelas que você pisa e molha um pouco a ponta do pé, mas nada demais. Eu acho que sou, no fundo, uma poça gelada, que se formou com a chuva do fim da tarde. Não foi muito forte, essa chuva. Ou pelo menos não deveria ter sido. Não teve motivo pra chover tanto assim.
Ok, vou ser sincera. Dentro de mim, lá no fundo, choveu muito, muitão. Com trovões e granizo e tudo que se tem direito. Foi uma chuva daquelas de encher o centro, sabe? De deixar até os joelhos e todo o cabelo molhados e de deixar a gente com muito ódio porque o guarda chuva que comprou não era tão bom assim e quebrou no meio do caminho. Mas, por mais que tenha chovido tanto assim, por que se formou uma poça tão pequena? Eu não sei explicar.
Mesmo com tanta chuva, tudo parece ser a mesma coisa, todos os dias. Todo mundo é igual. Todo mundo faz as mesmas coisas pra continuar vivo; trabalhar, estudar, existir. E ninguém faz coisas legais, ninguém se importa em ser legal. Todo mundo só quer continuar existindo e vivendo uma vida monótona e sem graça. É claro que eu me incluo nisso. E pra quê? Pra que continuar existindo, se tudo é um saco? Na verdade, acho que só eu penso assim, não é? O resto dos adultos não devem achar tudo tão um saco assim. Deve ser legal existir pra algumas pessoas, eu acho. Que absurdo. Como alguém pode achar legal uma vida assim? Chega até a ser meio engraçado.
Mas acho que, no fim das coisas, o problema sou eu mesmo. O problema é o meu mau humor crônico. Tudo é chato, tudo é cinza. E sempre chove dentro de mim. Uma chuva incontrolável. Um dia, quem sabe, a chuva venha a parar. Um dia, quem sabe, eu deixe de ser tão rasa.
Reli esse texto e achei tão horrível, essas palavras todas. Tentei dizer coisas legais e enfim, não consegui. Nada de bom sai de mim. Parece que não tenho o talento nato, não sou um mago das palavras, não sou nada. Como pode uma existência ser assim tão inútil? É realmente muito engraçado.
Talvez eu tente de novo mais tarde. Mas já sei que não vou conseguir. Que as palavras vão sair confusas, ou que os sentimentos descritos vão parecer tão mas tão rasos que nem uma poça é o bastante pra descrever. No fim eu devo ser tipo um copo de água com tão pouca água que não dá nem pra matar a sede. Beba um golinho de mim e você irá sentir até azia. Que existência amarga a minha. Que sem graça.